O futebol é, sim, um jogo de talento, estratégia e disciplina — mas é também um jogo de ambiente. E quando os bastidores se desorganizam, o reflexo é inevitável dentro das quatro linhas. A rodada do fim de semana foi um retrato claro disso para os dois gigantes de Minas Gerais: enquanto o Cruzeiro colhe frutos de um trabalho em evolução, o Atlético começa a pagar, literalmente, pelos erros acumulados nos bastidores.
No Mineirão, o Cruzeiro transformou a noite de sábado em um espetáculo. Com intensidade, criatividade e uma postura ofensiva exemplar, não deu chances ao Grêmio e venceu por 4 a 1. Já o Atlético, em Salvador, foi superado pelo Bahia por 2 a 1 — e, embora tenha tido seus momentos, saiu de campo outra vez com a sensação de um time desconcentrado, emocionalmente instável e cada vez mais distante daquilo que o torcedor espera.
Cruzeiro: crescimento com método
Há algo de sólido no trabalho de Leonardo Jardim. O técnico celeste encontrou um esquema funcional, reativou jogadores que estavam em baixa e transformou a equipe em uma versão mais objetiva e menos dramática do que a vista em temporadas passadas. Contra o Grêmio, a aplicação tática foi nítida: marcação alta, domínio do meio-campo, pressão constante.
Mais do que o resultado elástico, chama atenção a postura: o Cruzeiro joga como quem sabe o que está fazendo. A gestão de Pedrinho, mesmo ainda enfrentando críticas, tem mostrado equilíbrio financeiro e respaldo técnico.
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E isso, a médio prazo, dá resultado. O clube que até pouco tempo sofria com dívidas e instabilidade agora tem um ambiente controlado e um grupo que acredita no trabalho.
Atlético: quando o extracampo contamina
Do lado alvinegro, o cenário é o oposto. O elenco do Galo é qualificado, mas os resultados não aparecem. A derrota para o Bahia expôs novamente uma equipe que alterna bons momentos com lapsos de atenção — e de entrega. E, nesse ponto, é impossível ignorar o fator extracampo: os salários estão atrasados.
Sim, os jogadores são profissionais, ganham bem, e não é aceitável que deixem de competir por isso. Mas futebol não é fábrica. É ambiente. É rotina. É motivação. Quando o salário atrasa, o clima muda. A desconfiança cresce. O discurso do vestiário enfraquece. E não é de hoje que o Galo tem enfrentado dificuldades para honrar seus compromissos, especialmente no que diz respeito a direitos de imagem.
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Não se trata de “passar pano” para atuações ruins — mas de reconhecer que há um contexto que afeta o rendimento. Jogadores são cobrados diariamente por performance, mas também têm famílias, contratos e expectativas. E o que se vê é um time desconectado, disperso, como se algo maior do que apenas a tática estivesse fora do lugar.
O risco de perder o controle
A diretoria atleticana tenta minimizar a crise, mas a verdade é que a conta está chegando. O investimento no elenco foi alto, a folha salarial é uma das maiores do Brasil, e a Arena MRV exige manutenção constante. É legítimo buscar grandeza, mas é preciso respeitar os limites da realidade. O risco agora é o vestiário deixar de confiar — e aí, o futebol vai embora junto.
A derrota para o Bahia foi apenas mais um capítulo. A falta de concentração nos minutos finais, a apatia em certos lances, o semblante dos jogadores ao fim do jogo: tudo aponta para uma equipe que não sabe mais onde está pisando. E quando isso acontece, nem o melhor técnico do mundo resolve.
Conclusão: dois caminhos e um alerta
A rodada foi simbólica. O Cruzeiro, com menos investimento, mostra organização e resultado. O Galo, com mais estrelas e menos gestão, patina. E talvez esteja na hora da diretoria atleticana parar de falar em “grandeza” e começar a olhar para dentro — e para a folha de pagamento.
No futebol, o salário pode até não ganhar jogo. Mas o atraso dele, aos poucos, começa a perder.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.